O ano de 2020 trouxe muitas mudanças e já é um marco na história mundial. Em meio ao caos político instalado em muitos países em paralelo a pandemia do novo coronavírus, vivemos uma quarta revolução industrial que ainda tem raízes presas no passado. Na Espanha, o Governo projeta cada vez mais benefícios a empresas que integrem mulheres. Apesar de muitas já ocuparem altos níveis de executivo, o grupo feminino ocupa apenas 19,7% dos perfis de especialistas em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), de acordo com os últimos dados do Eurostat. É importante destacar que este setor de tecnologia e digital tem previsão de gerar mais emprego líquido nos próximos anos e com mais qualidade.
O paradoxo é explicar por que no século XXI as novas gerações de mulheres não estão avançando em um setor que é um motor econômico: a indústria de TIC já contribui com 3,1% do PIB espanhol, cresce anualmente entre 3 e 8% e gera muitos empregos (estima-se que entre 2017 e 2022 a digitalização produzirá 1.250.000 empregos no território espanhol). É até uma atividade que sofre de um grande déficit de talentos.
De fato, diversos relatórios da Comissão Europeia preveem que meio milhão de vagas, ligadas às novas tecnologias, serão preenchidas nos próximos anos. Uma excelente oportunidade para os jovens espanhóis que tradicionalmente têm altas taxas de desemprego, de 32% no início deste ano, mas agora quase 40% com a pandemia.
Além disso, esse setor tem outro grande atrativo: proporciona empregos de qualidade. “Os salários são entre 3 e 22% superiores aos de outros setores”, indica Alicia Richart, diretora geral da DigitalES (Associação Espanhola de Digitalização, uma das associações patronais do setor). A Comissão Europeia estimou em 2016 que as mulheres TIC ganhavam quase 9% mais do que aquelas em cargos semelhantes em outros ramos de atividade.
“Se continuarmos assim, apenas uma minoria criará tecnologia e será projetada em torno dessa elite. Não será um futuro com diversidade porque as mulheres não estarão”, explica Sara Gómez, diretora de Mulheres e Ações de Engenharia da Royal Academy of Engineering. E isso também tem efeitos econômicos, como acrescenta o engenheiro: “As empresas vão perder diversidade e sem isso fica mais difícil de evoluir e avançar para novos resultados”. Até calcularam quanto pode ser ganho: de acordo com o estudo “Mulheres na era digital” da Comissão Europeia, incorporar mais mulheres em empregos digitais traria um benefício para a economia de cerca de 16.000 milhões de euros por ano para o PIB global da UE.
Uma das grandes barreiras encontra-se na falta de vocações femininas para os cursos de graduação tecnológica na universidade e as denominadas STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática), que estão mais próximas dos perfis exigidos pelo setor. “Para cada seis homens em carreiras de tecnologia, há uma mulher”, diz Alicia Richart. Se as mulheres escolhessem carreiras em tecnologia, a representação feminina no setor aumentaria muito mais.