Colapso nas repartições da Previdência: “Isso é brincadeira, estou há quatro meses pedindo consulta para me aposentar”
Conseguir uma cita para fazer trâmites em Madrid do Instituto Nacional de Segurança Social (Instituto Nacional de la Seguridad Social) é quase uma missão impossível. Há cidadãos que demoram até quatro meses para marcar uma consulta depois de passarem dia após dia em frente ao computador, já que ninguém os atende por telefone. O governo central busca fórmulas para resolver este problema, enquanto o sindicato CSIF exige uma reunião urgente e denuncia que faltam quase 10.000 funcionários para acabar com o colapso desses escritórios. Se não acontecer, os sindicatos aumentarão seus protestos.
As pensões, as prestações por viuvez, as licenças de maternidade e paternidade ou o rendimento mínimo vital (IMV) são processados nas repartições da Segurança Social. Só é possível ir con cita prévia para estes procedimentos, embora o ministério diga que “para assuntos urgentes se compareça”. Algumas dessas unidades atendem apenas 40 pessoas por dia, o que está gerando uma onda de denúncias que chegaram até à Ouvidoria.
Na porta do escritório no Paseo de Extremadura em Alcorcón (Madrid), uma mulher veio ontem para tentar conseguir uma consulta depois de várias semanas de desespero. «O meu marido faleceu e preciso corrigir a pensão. Já liguei mais de 20 vezes e ninguém atende e não sei da internet”, disse ontem a idosa de 72 anos. Depois de mais de quatro meses, José Andrés conseguiu sua cita. “Isso é brincadeira. Estou há quatro meses para conseguir uma consulta para me aposentar. Disseram para eu fazer de madrugada e fiquei até as 02h da manhã até conseguir”, conta.
No gabinete de Miguel Fleta 3 em Ciudad Lineal (Madrid), a Polícia teve de intervir esta semana devido à frustração sofrida pelos cidadãos à porta destes escritórios. Um dos funcionários ligou para o 091 quando um homem bateu com a cabeça na entrada e ameaçou matar um dos trabalhadores. “Eles estão nos provocando de todos os lados. Precisamos acertar nossos papéis e ninguém nos dá uma solução”, apontou uma senhora muito irritada esperando ser recebida por alguém. À porta deste gabinete há pessoas que chegam às seis da manhã para marcar consulta.
Os sindicatos CCOO, UGT e CSIF estão se mobilizando há várias semanas para conseguir um reforço de pessoal nas repartições da Segurança Social. “Nós, trabalhadores, queremos atender o cidadão quando ele precisa e na modalidade que ele escolher. Begoña Gil, porta-voz do sindicato CSIF, reiterou ontem que “a situação da Previdência Social é caótica”. “Os telefones estão colapsados, esta sobrecarga de trabalho tem causado um imenso saco de expedientes não processados. Os nossos cidadãos não são devidamente atendidos e o ministro Escrivá continua sem reagir”, acrescentou Gil.
O Ministério da Previdência Social reconhece o problema, mas nega que haja colapso. Hoje eles dizem que existem muitas consultas disponíveis online. “É verdade que nos meses de dezembro e janeiro, devido aos feriados, havia menos disponibilidade de marcações, mas agora não”, indicam da organização que esclarece que hoje no sistema de marcação se consegue vagas para os dias de março: 15 e 16. Acrescentam ainda que perderam 23% dos funcionários em 10 anos e que estão preenchendo os cargos com trabalhadores temporários. Acrescenta que já existem 21.975 funcionários públicos, devido às escassas taxas de substituição nos anos anteriores à pandemia e às massivas reformas num contexto de envelhecimento da força de trabalho. Um em cada três trabalhadores da Segurança Social tem mais de 60 anos e oito em cada dez têm mais de 50 anos.
A Segurança Social acrescenta que tem “continuado a prestar um serviço que garante, por exemplo, a continuidade do rendimento aos reformados”. “A comparação entre uma pensão contributiva e não contributiva é um bom exemplo disso: esta última, gerida pelas comunidades autónomas, demora em média 184 dias a resolver, enquanto a Segurança Social resolve um processo de pensão contributiva em 21 dias”, aponta . Sublinham ainda que desde 2020 “3.380 pessoas aderiram, das quais 1.837 interinas, o triplo do período 2010-2019”. “Foi dada prioridade à atribuição de novos recrutas aos territórios onde são mais necessários, com base em indicadores de carga de trabalho”, insiste o ministério.
(Fonte: Periódico El Mundo)